Paulo é uma pessoa introvertida, com sérias dificuldades para se socializar. Tem 29 anos, cursa mestrado e tem boas condições financeiras. O seu maior sucesso está no mundo acadêmico, pois é seu único refúgio e espaço onde pode se expressar livremente sem ter medo de ninguém e de nada.
Apesar de ter tido poucos relacionamentos sérios em sua vida, sempre foi ativo sexualmente de forma casual, o que deixa tudo vazio, necessitando de alguém presente em sua vida, algo realmente sério. Diante dessa necessidade, resolveu recorrer a aplicativos de relacionamentos para buscar um amor.
Há sete anos, Paulo criou por curiosidade a sua primeira conta em aplicativo de relacionamentos, o Badoo. Nas primeiras semanas chovia curtidas, mas o matches não fluíam. Insatisfeito com os resultados, recorreu ao Tinder, que por sua vez lhe rendeu algumas conversas animadoras, mas que também acabava esfriando com o tempo.
Em alguns casos ele mesmo abandonava a conversa ao perceber que a parceira não estava interessada ou quando o clima esfriava. Em outros, acontecia o contrário. Ficou nessa vibe por muito tempo até os dias atuais, onde busca desesperadamente um relacionamento sério.
Hoje os aplicativos estão mais modernos, com novos recursos para facilitar o match e a paquera, como a opção de enviar uma mensagem junto com um super like no Tinder e a opção de enviar uma paquera no Badoo. Esses recursos são pagos e Paulo pagava o plano mais caro para ter acesso a todos os recursos e usá-los a seu favor. E mesmo assim, não conseguia resultados.
Então, ele passou a atualizar com frequência suas fotos, descrição do perfil, interesses pessoais, profissionais e acadêmicos, gostos e preferência, sempre deixando bem claro o que buscava no aplicativo. Achava que era ali que estava o problema, mas mesmo assim, não dava em nada.
Chegou ao ponto de usar filtros para filtrar os perfis compatíveis com sua preferência e conseguiu encontrar várias garotas com os mesmos gostos e interesses e que também tinham dificuldades para relacionamentos. Mas, como sempre, nada!
E mais uma vez, Paulo culpa suas informações de perfil, acreditando que tudo ali estava errado. Apagou todas as informações e deixou apenas duas fotos recentes, seu nome, idade e outras informações obrigatórias. Passava horas e horas curtindo perfis no Baboo e deslizando no Tinder, até esgotar as pessoas mais próximas ou ficar entediado.
Deixava de usar o app por alguns dias e quando voltava, para sua surpresa, não tinha nenhuma curtida, nenhum match e nenhuma mensagem respondida. Então voltava novamente para a mesma velha rotina de curtir e deslizar na esperança de que dessa vez fosse dar certo, mas Paulo já estava ficando cansado.
Com problemas pessoais e profissionais atormentando seu psicológico, ele decidiu fazer sua última aposta em aplicativos para relacionamentos. Mandou uma mensagem sem dar match para uma mulher que tinha lhe curtido no Tinder e comentou a foto de outra que também havia lhe curtido no Badoo.
No outro dia, não conseguiu mais localizar as mensagens que havia enviado, evidenciando que a pessoa apagou a mensagem, desfazendo a curtida. Com sua última aposta fracassada, Paulo deletou suas contas dos aplicativos de paquera e removeu-os do seu celular.
“Esses aplicativos de namoro acabaram com o meu psicológico. Foram tantas curtidas infrutíferas, matches infrutíferos e mensagens sem respostas. Nem com recursos pagos consegui sequer marcar um encontro. Estava combinando um encontro com uma garota quando percebi que sua foto no WhatsApp não aparecia mais, nem seu recado e que o número já não tinha mais WhatsApp cadastrado. Tudo isso é cansativo. Esses aplicativos podem funcionar com outras pessoas, mas comigo não funcionaram. Foram 7 anos de experiências ruins, testei todos os recursos, utilizei todas as ferramentas disponíveis. Recorri até a fóruns e dicas para mandar bem nas paqueras e mesmo assim, nada. Ou o problema está nos apps ou em mim. Acho que vou desistir do amor”.
Paulo decidiu que não vai mais usar aplicativos de relacionamentos e que também não vai mais procurar relacionamento sério. Vai continuar vivendo como está. Hoje uma, amanhã outra, com o mesmo vazio dentro do peito.
*Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.