Eu estava em um evento, houve um imprevisto e o mestre de cerimônias ou “apresentador” precisou alterar seu discurso. Com um pedaço de papel em mãos, ele escrevia as informações a serem anunciadas. De repente, ele veio até mim e me perguntou se “cidade” se escreve com “c” ou “s”.
Agora você imagina uma reportagem escrita por um “profissional” como esse. É exatamente o que está acontecendo com o jornalismo hoje. Pessoas sem formação, sem nenhum nível de conhecimento do que é fazer jornalismo, se autointitulam jornalistas e começam a espalhar fofocas pela internet.
Cada vez mais se percebe a decadência do jornalismo, a descredibilidade causada por pessoas que não têm competência nem legitimidade para exercer tal função, que exige técnicas, estratégias, conhecimentos e formação. Para ser comunicador, independente da área de atuação, é necessário saber o português.
E isso vai muito além da gramática. O jornalismo não se resume a relatar fatos; ele exige uma compreensão profunda do contexto, uma capacidade crítica e uma ética profissional que orienta a cobertura dos eventos. A falta de regulação na profissão permite que indivíduos mal preparados se apresentem como jornalistas, comprometendo a qualidade da informação e, consequentemente, a confiança do público.
Quando um “profissional” se vê diante de um microfone, sem saber a diferença entre “c” e “s”, isso não é apenas um erro isolado. É um reflexo de uma crise maior, onde a desinformação prospera e a verdade se torna um bem escasso. Em um mundo onde as redes sociais amplificam vozes sem embasamento, a responsabilidade do jornalista se torna ainda mais crucial. A informação deve ser apurada, verificada e apresentada de maneira ética, e isso demanda formação e experiência.
A ausência de um registro profissional adequado e de instituições que fiscalizem e qualifiquem a atuação dos jornalistas abre espaço para a proliferação de conteúdo superficial e, muitas vezes, enganoso. Essa situação não só prejudica a imagem do jornalismo, mas também desinforma a sociedade, contribuindo para a polarização e a disseminação de fake news.
Atualmente, qualquer pessoa pode criar uma página na internet ou usar suas redes sociais para distribuir notícias, sem checagem, sem direito ao contraditório e sem presunção de inocência, e para piorar a situação, sem conhecimento do Código de Ética dos Jornalistas.
O estrago causado por uma mentira, por uma informação falsa que não foi checada, é muito difícil de ser reparado. Quando a verdade for exposta, talvez não tenha a mesma repercussão, não chegue às mesmas pessoas que precisam ser esclarecidas ou, até mesmo, a pessoas que, ainda assim, vão duvidar da verdade. Sem falar nos riscos, inclusive de vida, aos quais uma pessoa pode ser submetida em decorrência de uma notícia falsa. Fazer jornalismo é uma responsabilidade e uma profissão que deve ser exercida por profissionais capacitados.
Portanto, é imprescindível que haja uma discussão séria sobre a regulação da profissão, com a valorização da formação acadêmica e a defesa de padrões éticos rigorosos. Somente assim poderemos garantir que o jornalismo cumpra seu papel fundamental de informar, educar e servir como um pilar da democracia. O público merece mais do que a banalização da informação; ele merece jornalistas preparados, comprometidos e conscientes da importância de seu trabalho.
Atualmente, está parada no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 206/2012, conhecida como “PEC do Diploma” que restabelece o diploma de curso superior de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, para o exercício da profissão de jornalista no país. Entretanto, o projeto enfrenta resistência em parte devido a debates sobre liberdade de expressão e a relevância da regulamentação em um contexto digital. As críticas geralmente se concentram na preocupação de que a regulamentação possa restringir a atuação de jornalistas independentes e influenciar a pluralidade de vozes na mídia.